Grávidas podem praticar esportes?

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Existem apenas alguns estudos de qualidade sobre a gravidez entre mulheres que se exercitam muito, mas “há muitas grávidas que continuam a se exercitar durante a gestação, inclusive atletas renomadas, e isso não as tem afetado de forma negativa, não prejudicando a mãe e nem o feto”, afirma a professora Kari Bo, da Universidade Norueguesa de Ciências do Esporte. Essa prática ganhou aval recentemente, por meio de um relatório encomendado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), que afirma que há menos riscos do que se pensava para as atletas que competem grávidas.

Os conselhos dados às mulheres grávidas em relação à prática de exercícios costumam ser confusos e especulativos. Durante muito tempo se acreditou que o exercício prejudicava a capacidade reprodutiva de uma mulher. As raízes desse pensamento não eram científicas e estavam mais relacionadas com papéis designados para cada sexo, do que com a saúde da mãe ou do bebê.

Na década de 1980, alguns pesquisadores começaram a analisar o impacto do exercício sobre o corpo de uma mulher – em termos de oxigênio, fluxo sanguíneo, nutrientes e temperatura. E chegaram à conclusão de que eram os mesmos impactos exercidos por um feto. Esses médicos então sugeriram que, se uma mulher grávida se exercitasse, o feto poderia perder a disputa pelos recursos disponíveis no corpo da gestante. “De certa forma, está certo. Mas as mulheres que são atletas também têm uma boa distribuição do sangue, então a atividade não parece fazer mal ao feto”, afirmou Bo.

“Ao mesmo tempo é óbvio que a placenta também recebe uma nutrição melhor quando a mulher se exercita. Ou seja, acontece um tipo de compensação.”

Mulheres grávidas regulam melhor a temperatura corporal, e é por isso que elas podem transpirar mais, além de terem maior capacidade cardiovascular. As mudanças hormonais podem fazer com que elas sintam maior flexibilidade nas juntas, e um aumento na concentração de células vermelhas no sangue significa que elas estão transportando mais oxigênio pelo corpo.

Bo afirma que a mensagem para as atletas grávidas é simples: ouça seu corpo. Se você fizer algo que não parecer certo, provavelmente será melhor parar. “Os poucos estudos que temos mostram que atletas grávidas reduzem a intensidade e a frequência de treinos por conta própria. Isso acontece quando sua barriga está crescendo e você sente a criança pulando junto com você, o que sabemos que não é muito bom”, afirmou a professora.

Dicas

A professora Kari Bo acredita que as próprias atletas são as mais indicadas para analisar sua habilidade de treinar durante a gravidez. Mas ela oferece algumas dicas:

  • No primeiro trimestre (período de 12 semanas) é melhor evitar um grande aumento na temperatura corporal, o ideal é usar roupas leves ou se exercitar em ambientes com ar-condicionado, evitando também o exercício exaustivo em dias muito quentes.
  • Atletas de levantamento de peso provavelmente devem reduzir o esforço durante a gravidez, já que isso pode aumentar a pressão sanguínea, parar o fluxo de sangue para o feto e pressionar a região pélvica.
  • Mergulho não é indicado durante a gravidez, e mulheres no último trimestre também devem evitar esportes de contato intenso como futebol ou hóquei, nos quais elas podem sofrer quedas ou colisões.
  • No último trimestre, as atletas não devem praticar exercícios que superem os 90% de seu consumo máximo de oxigênio, já que isso pode diminuir o batimento cardíaco do feto.

Recomendações

O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas recomenda que as mulheres grávidas façam exercícios aeróbicos e de resistência que podem reduzir o risco de diabetes e melhorar o bem-estar mental. Mas antes de começar um programa de exercícios elas devem procurar aconselhamento médico.

No, Reino Unido, o serviço nacional de saúde recomenda que grávidas continuem a se exercitar, mas evitem exercícios extenuantes – noção que depende de o quão em forma está a mulher e quanto esporte ela já pratica.

Apesar do novo relatório do COI, Kari Bo reconhece que já recomendou várias vezes para as atletas diminuírem o ritmo durante a gravidez. “Acho que as atletas têm muito medo de ficar fora de forma. E, para essas mulheres, eu digo: você não vai perder muito ao se exercitar moderadamente nos últimos dois meses da sua gravidez. São apenas alguns meses de sua vida. Então tome cuidado, porque você está carregando um passageiro.”

Depois do parto

O conselho tradicionalmente dado a mulheres depois do parto é para pegar leve nas seis semanas seguintes ao nascimento, mas a professora Kari Bo afirmou que isso não se aplica a todas. Na verdade, as atletas que passaram por uma gravidez e um parto tranquilo, frequentemente voltam a se exercitar depois de uma ou duas semanas. Para tudo, vale considerar o bom senso e os sinais que o próprio corpo emite.

Fonte: BBC Mundo