Mamografia anual deve começar aos 40, aponta estudo

Nesta seção você encontrará resumos de artigos recentes, analisados pela Dra. Aline Serfaty, cuja formação profissional inclui: Universidade Federal Fluminense e CDPI (residência médica), Hospital Saint Antoine – Paris (fellow) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (mestrado). Ela é diretora do setor de ressonância magnética da clínica Medscanlagos, em Cabo Frio, Rio de Janeiro desde 2007

1 – Rastreamento com imagens adicionais de ressonância magnética em mulheres com risco médio para câncer de mama

Os objetivos deste trabalho prospectivo observacional, publicado na Radiology em maio deste ano, foram investigar a utilidade e a precisão da ressonância magnética (RM) de mama como uma ferramenta adicional de rastreamento em mulheres com risco médio de câncer de mama, e descrever os tipos histológicos dos tumores detectados a fim de também analisar a questão do sobrediagnóstico (detecção por rastreamento de um câncer que não é histologicamente significativo). A taxa de câncer de intervalo associada ao rastreio por RM também foi investigada.

O estudo foi conduzido entre janeiro de 2005 e dezembro de 2013 em dois centros acadêmicos de mama. Um total de 2120 mulheres, entre 40 e 70 anos, sem fatores de risco para câncer de mama, e com mamografias de rastreamento normais (associadas ou não à ultrassonografia) realizaram imagens suplementares de RM.

O câncer de mama foi diagnosticado em 61 das 2120 participantes. A RM de mama mostrou 60 tumores mamários adicionais (carcinoma ductal in situ, n=20; carcinoma invasivo, n= 40), com uma taxa global de detecção adicional de câncer de 15,5 por 1000 casos (intervalo de confiança de 95%). Vale a pena ressaltar que esta taxa de detecção adicional é substancialmente maior que a descrita na literatura para a tomossíntese mamária (1,2 por 1000 casos). Quarenta e oito lesões malignas foram detectadas com a RM durante o rastreio inicial, e os outras 13 nos rastreamentos subsequentes. Apenas uma lesão foi diagnosticada com os três métodos (mamografia, US e RM), e nenhuma foi diagnosticada apenas com mamografia ou ultrassonografia. Os cânceres diagnosticados com RM foram pequenos (mediana, 8 mm), os linfonodos foram negativos em 93,4% dos casos, e os tumores foram indiferenciados (alto grau de malignidade) em 41,7% das pacientes na primeira triagem (rastreamento de prevalência), e em 46,0% dos casos nas triagens subsequentes (rastreamento de incidência). Não foi observado câncer de intervalo em um período de até quase três anos. O rastreamento por RM apresentou alta especificidade (97,1%; IC de 95%: 96,5; 97,6) e alto valor preditivo positivo (35,7%; IC de 95%: 28,9; 43,1).

Para lembrar: Em mulheres com risco médio de câncer de mama, o rastreamento por RM melhora o diagnóstico precoce da doença, especialmente nas mulheres com mamas densas.

Referência: Kuhl C, Strobel K, Bieling H, Leutner C, Schild H, Schrading S. Supplemental Breast MR Imaging Screening of Women with Average Risk of Breast Cancer. Radiology. 2017;283(2):361-370. doi:10.1148/radiol.2016161444.

2 – Mamografia de rastreamento em mulheres na faixa etária dos 40 anos: o impacto das recomendações de rastreamento do câncer de mama da American Cancer Society e da USPSTF

Não há dúvidas de que o rastreamento por mamografia salva vidas. Entretanto, há muita controvérsia na literatura sobre a melhor forma de se rastrear estes tumores, e a maioria das organizações americanas (entre elas o American College of Radiology), recomenda que o rastreamento do câncer de mama (CM) deve ser realizado anualmente, a partir dos 40 anos de idade. Por outro lado, desde 2009 a U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF) recomenda mamografia de rastreamento em mulheres entre 50 e 74 anos, a cada dois anos. Para as mulheres entre 40 e 49 anos a decisão de fazer o rastreamento passa a ser individual, tomada em conjunto com o médico-assistente. Em 2015, a American Cancer Society (ACS) mudou suas recomendações. Tanto ACS quanto USPSTF concordam que o rastreamento iniciado aos 40 anos pode salvar mais vidas, mas mesmo assim, aconselham que o início seja tardio. Segundo o consenso atual da ACS:

  1. Mulheres entre 40 e 44 anos podem iniciar rastreamento com mamografia anual.
  2. Entre 45 e 54 anos elas devem realizar mamografia anual.
  3. A partir dos 55 anos o exame deve ser realizado a cada dois anos.

O presente trabalho teve como objetivo avaliar mamografias de rastreamento para determinar a taxa de detecção de câncer de mama em mulheres com idade entre 40 e 44 anos, 45 e 49 anos, e o impacto destes achados de acordo com as recomendações da ACS. Sendo assim, foram estudadas 32762 mamografias de rastreamento, sendo indicadas 808 biópsias. A taxa geral de detecção de câncer de mama foi de 6,84/1000 exames. A incidência de câncer de mama em mulheres na faixa etária dos 40-49 anos foi significativa (18,8% dos cânceres detectados pela mamografia) e, em mais de 60% dos casos, os tumores eram da forma invasiva. O grau de invasão e a incidência do câncer de mama nas faixas etárias de 40-44 anos e 45 a 49 anos foi similar (8,9% e 9,8%).

Para lembrar: Os achados deste estudo sustentam a recomendação do ACR de que o rastreamento anual por mamografia deve ser iniciado aos 40 anos de idade.

Referência: Pitman J, McGinty G, Soman R, Drotman M, Reichman M, Arleo E. Screening Mammography for Women in Their 40s: The Potential Impact of the American Cancer Society and U.S. Preventive Services Task Force Breast Cancer Screening Recommendations. American Journal of Roentgenology. 2017:1-6. doi:10.2214/ajr.16.17759.

3. Comparação entre mamografia digital e 2D sintética na interpretação da densidade mamária

O aumento da densidade mamária reduz a sensibilidade da mamografia e aumenta o risco de câncer de mama. Atualmente, em 28 estados americanos, existem leis relacionadas à notificação sobre o tipo de densidade mamária, com o objetivo de informar às pacientes que têm mamas com alta densidade sobre o benefício da realização de exames complementares de rastreamento. A tomossíntese (TS) tem sido cada vez mais utilizada, uma vez que reduz as reconvocações e aumenta a detecção do câncer de mama. A mamografia 2D sintética (M2DS) consiste em uma reconstrução em 2D das imagens da tomossíntese.

Este estudo retrospectivo incluiu 309 pacientes com categoria BI-RADS 1 e 2 que foram submetidas a tomossíntese e a mamografia digital (MD). Os exames foram avaliados por três radiologistas experientes, com o objetivo de determinar a ocorrência de discrepância na classificação da densidade mamária das imagens obtidas pela mamografia digital e pela mamografia 2D sintética. Embora o trabalho tenha demonstrado uma pequena variação na avaliação realizada pelos radiologistas, tanto a MD quanto a M2DS permitiram uma adequada classificação dos tipos de densidade mamária. A M2DS não resultou em alteração significativa no número de mulheres classificadas como tendo tecido mamário denso ou não denso. Desta forma, números semelhantes de mulheres seriam informadas sobre o benefício da realização de exames complementares se M2DS fosse utilizada.

Para lembrar: A mamografia digital e a mamografia 2D sintética podem ser utilizadas para avaliação da densidade mamária, permitindo indicações precisas sobre o benefício da realização de exames complementares de rastreamento às pacientes com mamas extremamente ou heterogeneamente densas.

Referência: Alshafeiy T, Wadih A, Nicholson B et al. Comparison Between Digital and Synthetic 2D Mammograms in Breast Density Interpretation. American Journal of Roentgenology. 2017:W1-W6. doi:10.2214/ajr.16.16966.

Fonte